Clair Obscure e Stellar Blade são sucessos globais com direito a reconhecimento presidencial

A cena global dos videogames atravessa uma fase pouco comum, em que sucesso comercial, reconhecimento institucional e impacto cultural caminham juntos. Nos últimos dias, dois polos criativos bem distantes — Coreia do Sul e França — acabaram conectados por histórias que mostram como os games deixaram de ser apenas entretenimento para ocupar um espaço estratégico na economia criativa mundial.

Na Ásia, o nome de Hyung-tae Kim ganhou projeção além do público gamer. O fundador e CEO da Shift Up foi homenageado com a Comenda Presidencial durante o Korean Content Awards 2025, uma das maiores distinções concedidas pelo governo sul-coreano. O prêmio reconhece trajetórias que contribuem diretamente para a expansão cultural e econômica do país, e, no caso de Kim, o peso de Stellar Blade e Goddess of Victory: Nikke foi decisivo.

Ao subir ao palco, o executivo fez questão de dividir o mérito. Falou de equipe, de jogadores e do ecossistema que se formou em torno do estúdio ao longo dos últimos anos. Também reforçou um discurso que tem sido recorrente na Shift Up: a ambição de transformar produções coreanas em referências globais, não apenas em nichos específicos.

Essa ambição se reflete nos números. Stellar Blade rapidamente se consolidou como um dos lançamentos mais expressivos do estúdio, com desempenho acima da média tanto nos consoles quanto no PC, onde quebrou recordes dentro de sua categoria. O resultado foi suficiente para que a sequência entrasse oficialmente nos planos da empresa, com lançamento previsto para 2026, conforme documentos apresentados a investidores. Paralelamente, há indícios de que o jogo também ganhará novas plataformas, incluindo um possível port para o aguardado Switch 2, ainda mantido sob confidencialidade.

Enquanto isso, Nikke segue um caminho diferente, mas igualmente impressionante. O shooter mobile com estrutura de gacha ultrapassou a marca de US$ 1 bilhão em faturamento, impulsionado por eventos frequentes e colaborações de alto apelo. Parcerias com franquias como Nier: Automata, Neon Genesis Evangelion e até o próprio Stellar Blade ajudaram a criar um ecossistema que mantém o jogo relevante e financeiramente saudável.

Na Europa, o destaque veio da França, que viveu um de seus momentos mais simbólicos na história recente dos games. Clair Obscur: Expedition 33, da Sandfall Interactive, foi o grande nome do The Game Awards 2025, acumulando nove troféus — um recorde absoluto da premiação. Entre eles, estavam categorias de peso como Jogo do Ano, Melhor RPG, Melhor Jogo Independente e Melhor Estreia Indie.

A repercussão extrapolou o circuito especializado. O presidente Emmanuel Macron fez questão de parabenizar publicamente o estúdio nas redes sociais, tratando a conquista como um orgulho nacional. Para ele, o sucesso do jogo não representa apenas uma vitória para a equipe de Montpellier, onde a Sandfall está sediada, mas para toda a indústria criativa francesa.

O reconhecimento político não surgiu do nada. Antes mesmo da noite do TGA, Clair Obscur já chamava atenção pelo desempenho comercial: mais de 1 milhão de cópias vendidas em apenas três dias e uma média de avaliações que o colocou entre os títulos mais bem recebidos dos últimos anos. Após a avalanche de prêmios, o estúdio voltou a agradecer à comunidade, reforçando que o envolvimento dos jogadores foi determinante para o alcance do projeto.

Somadas, essas histórias ajudam a desenhar um retrato claro do momento atual dos videogames. Estúdios independentes conquistam prêmios antes reservados a gigantes, jogos mobile atingem cifras bilionárias e governos passam a celebrar desenvolvedores como ativos culturais estratégicos. Com novas sequências no horizonte e fronteiras cada vez mais diluídas entre arte, tecnologia e mercado, os games vivem talvez a fase mais relevante de sua história.

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