A promessa é muito boa e tentadora: Uma tecnologia capaz de ampliar os poderes criativos, acelerar processos sem sacrificar qualidade e entregar experiências mais profundas ao jogador. No discurso, parecia o início de uma nova era. Na prática, o cenário tem sido bem menos empolgante.
Porém não é bem isso o que temos hoje em dia. Jogos seguem com preços elevados (R$ 400,00 em um jogo é LOUCURA), cronogramas apertados e lançamentos cada vez mais irregulares, enquanto a IA entra como peça central para “otimizar” a produção. Otimizar, nesse caso, só significa reduzir custos, cortar etapas e, principalmente, diminuir equipes.
A promessa de automação como aliada da qualidade rapidamente deu lugar a outro uso. A tecnologia passou a servir como atalho para cumprir prazos e enxugar orçamentos, sem que isso se reflita em benefícios claros para quem compra o jogo. O valor cobrado permanece o mesmo. O cuidado no acabamento, nem sempre.
O vocabulário corporativo ajuda a suavizar o impacto. Termos como eficiência, escala criativa e modernização do pipeline soam técnicos e positivos, mas escondem uma realidade mais simples. Produzir mais rápido, gastar menos e manter o preço cheio. Em nenhum momento a IA surge como justificativa para jogos mais baratos ou lançamentos mais completos.
Há também uma contradição difícil de disfarçar. Enquanto executivos falam em democratização da criação, artistas, roteiristas e designers veem seu espaço diminuir. A tal liberdade criativa prometida acaba resultando em projetos visualmente parecidos, com soluções genéricas e pouca identidade. A tecnologia que deveria ampliar vozes começa a uniformizar tudo.
Para o jogador, os sinais aparecem de forma sutil, mas constante. Ambientes que parecem artificiais demais, animações sem peso, vozes estranhas, mundos que passam a sensação de terem sido montados sem olhar humano atento. Não se trata de incapacidade técnica da IA, mas de uma escolha clara sobre como e por que ela está sendo usada.
Se a discussão fosse realmente honesta, o tom seria outro. Falaríamos de redução de preços, de mais conteúdo no lançamento, de menos práticas abusivas. Em vez disso, o mercado prefere comunicar inovação enquanto entrega experiências que pouco evoluem, quando não regridem.
A inteligência artificial, por si só, não é o problema. Ela pode ser uma ferramenta poderosa. O impasse está em transformá-la em justificativa para empobrecer o processo criativo e vender isso como avanço.
Enquanto a indústria continuar confundindo corte de custos com progresso, o resultado será previsível. Jogos cada vez mais caros, cada vez mais vazios, embalados em discursos futuristas que não se sustentam na experiência final. A revolução segue prometida. O que chegou até agora foi apenas uma versão mais fria e menos cuidadosa do que já existia.
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